Mario Quintana XXXV
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais queri com nenhum de vós!
Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...
Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas.
E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu manto...
Mario Quintana XXIV
A ciranda rodava no meio do mundo
No meio do mundo rodava.
E quando a ciranda parava um segundo,
Um grilo, sozinho no mundo cantava...
Dali a três quadras o mundo acabava.
Dali a três, num valo profundo...
Bem junto com a rua o mundo acabava.
Rodava a ciranda no meio do mundo...
E Nosso Senhor era ali morava,
Por trás das estrelas, cuidando o seu mundo...
E quando a ciranda por fim terminava
E o silêncio, em tudo, era mais profundo,
Nosso Senhor esperava... esperava...
Cofiando as suas barbas de Pedro Segundo.
Mario Quintana XXVII
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo nossas duas almas
Chamarem nossos corpus nus, estrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rsgados...
Depois , volvendo ao Sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entravadinhos... E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violêntos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!