Criar um Site Grátis Fantástico


Total de visitas: 142
Poesias de Mario Quintana



Mario Quintana XXXV 

 

 Quando eu morrer e no frescor de lua

 Da casa nova me quedar a sós,

 Deixai-me em paz na minha quieta rua...

 Nada mais queri com nenhum de vós!

 

 Quero é ficar com alguns poemas tortos 

 Que andei tentando endireitar em vão...

 Que lindo a Eternidade, amigos mortos,

 Para as torturas lentas da Expressão!...

 

 Eu levarei comigo as madrugadas,

 Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando,

 Mais o rir das primeiras namoradas.

 

 E um dia a morte há de fitar com espanto

Os fios de vida que eu urdi, cantando,

Na orla negra do seu manto...

 

 

 

Mario Quintana XXIV

 

 

 A ciranda rodava no meio do mundo

 No meio do mundo rodava.

 E quando a ciranda parava um segundo,

 Um grilo, sozinho no mundo cantava...

 

 Dali a três quadras o mundo acabava.

 Dali a três, num valo profundo...

 Bem junto com a rua o mundo acabava.

 Rodava a ciranda no meio do mundo...

 

 E Nosso Senhor era ali morava,

 Por trás das estrelas, cuidando o seu mundo...

 E quando a ciranda por fim terminava

 

 E o silêncio, em tudo, era mais profundo,

 Nosso Senhor esperava... esperava...

 Cofiando as suas barbas de Pedro Segundo.

 

 

 

Mario Quintana XXVII

 

 Quando a luz estender a roupa nos telhados 

 E for todo o horizonte um frêmito de palmas

 E junto ao leito fundo nossas duas almas

 Chamarem nossos corpus nus, estrelaçados,

 

 Seremos, na manhã, duas máscaras calmas

 E felizes, de grandes olhos claros e rsgados...

 Depois , volvendo ao Sol  as nossas quatro palmas,

 Encheremos o céu de vôos encantados!...

 

 E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,

 Serão todos felizes, sem saber por quê...

 Até os cegos, os entravadinhos... E

 

Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violêntos,

 Nós improvisaremos danças espantosas

 Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!